Se eu fizer um versinho gostoso
que te deixe com fome
me come?
Acho que eu nunca saí daqui
ou quero voltar.
Colocar a mão na terra
puxar a raiz seca
pintar a casa
deitar no sofá.

Quero por mim.
Não sei se isso chama honra
ou amor.

Todos Perdedores

Sequer reconheci de longe
passei reto.
Esperei que meus olhos avisassem
um dejavu qualquer

Cansei.

Segui a pé.
Primeiro acha-se a estrada, depois o número.

O portão é o mesmo
a entrada melhorou!
E eu? Devia ter parado por aí.

Barro,
mato avançando sobre a grama.
E o caminho de pingos d'ouro, melhor contornar.
O verde da casa desbotou
por dentro e por fora
-até parece cinza
as paredes e as árvores.

A tia, velhinha
cercou a própria casa.
Por trás dos pilares e losangos
é do jeitinho que eu lembro.

Mas, coitada!
Sendo a tia eu evitava as janelas.
Já não vai ter a vista os irmãos
nem o cachorro que eu abandonei aqui
quando fui embora.
Fugiu, claro.
Quando adotou meu pai
ele procurava um lar
não esse campo de batalhas.

Terreno de guerra onde nunca dois olhares se desafiaram
e que hoje expõe-se,
reflexo da própria história.

A natureza virgem é soberana
Mas se a gente coloca a mão
reclama ser dominada.
Por isso, hoje esse lugar definha.

Desculpa, vó!
Que dor me deu colocar os pés aqui!
Lembrei de ti
do pai
e desses recomeços que não deram certo enfim!

Mas sabe, vó,
e que ironia, né,
fiquei com vontade de recomeçar também.