Confesso que me agonia, e muito
Ver uma fruta estragada.
Há não mais que alguns dias estava ali, nova,
Superior, escolhida.
Então hoje lhe tiram alguns pedaços
Reaproveitam-lhe só parte
e pronto!
O resto vai-se para o lixo.
“Sim Senhora, Dona Amora!”
Brinca a pequena da vizinha
Tão perfeitinha... ainda.
Se o bicho que estraga a fruta vem do ar
Mora nela desde sempre ou é bênção do Senhor
- que inferno não seria um mundo de laranjas boas?
Não sei
E nem interessa.
Mas de vez em quando arde a dúvida: o que sobra?
Para fugir da incerteza, inventei uma resposta:
Resta a lembrança,
Retrato a ser feito.
Com verso.
Com Lápis, papel, boca, olhos, sinceridade
E cinismo.
Curo, adoeço
Arrumo a mim e ao mundo...
Às vezes também destruo tudo.
Revelo aos supetões minhas idéias,
Depois as escondo à chave no criado-mudo.
Que a traça roa
Que a língua se perco
Enquanto há verso
Sou erupção
E mesmo que mais tarde eu passe
Mude
Vá embora!
Já não assusta tanto
Porque vou, é fato.
Mas, retrato, fico.